As duas faces da ira acumulada
Não dá para ficar indiferente diante de um cenário que mostra nitidamente uma variância de sentimentos acumulados. Como num estalar de dedos, o povo brasileiro, que até então parecia adormecido, apático, sem forças para sequer exigir seus direitos, resolveu unir-se e, literalmente, mostrar a cara. A "cara da revolta" diante de toda uma história de descaso, injustiça, negligência, corrupção, abuso, enfim...o que não falta são razões para nos revoltarmos.
Enquanto a carga tributária total do Brasil já está entre as mais altas do mundo(disputando inclusive com países realmente desenvolvidos), os considerados "pilares de sustentação de uma sociedade" (saúde, educação e segurança) estão, mais que nunca, ABANDONADOS. Nada coerente, não? Para onde está indo, então, toda a carga tributária que pagamos? Queremos o que é nosso, não?
Pensando bem, talvez o povo não estivesse tão indolente, e sim PARALISADO diante de tantas atrocidades concomitantes. Talvez por trás de todo um povo silencioso, houvesse uma junção de perplexidade, medo, raiva, ira...e que agora, como numa catarse, esteja havendo uma imensa descarga de tantos afetos acumulados. O problema de tanto acúmulo assim, é nos perdermos nos nossos próprios objetivos. Afinal, como um protesto contra violências, injustiças, etc, pode se dar com violência e injustiça? Como um protesto contra o descaso com o que é PÚBLICO, com o que é NOSSO, pode envolver depredação do que é NOSSO?
Que essa ira se transforme em um "sair da inércia" produtivo, crítico e que, assim, produza mudanças. Que esse sair da inércia seja genuíno, como um "acordar para o desejo de um país melhor, começando por melhorias em NOSSAS PRÓPRIAS ações. Que todo esse movimento não seja apenas um ROMPANTE de ira acumulada, gerando como fruto apenas mais violência. E, por fim, que tenhamos senso crítico suficiente para enxergarmos que até nesse movimento há um tremendo jogo político.
"Mas, se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.
Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!"